MEMORIAS DE UMA CADEIRA REAL
Luz! Muita luz, havia na vasta sala da Mansão “Magnólia” de Eliab, um simples cidadão de quarenta anos de idade, que da noite pro dia se tornou milionário, o adotou o grau de Sultão.
Quando criança, Eliab gostava muito em ler os contos fantasiosos de “Ali Baba e os Quarenta Ladroes”Viagens Maravilhosas de Sindab” o “Marinheiro”, Kismet, Mendigo Fatal” e outros semelhantes e dizia aos seus colegas e amigos que quando fosse homem e rico, seria também um sultão e teria os tesouros mais lindos do que os de Ali baba. Eliab era um garoto esperto, muito vivo, de olhos castanhos, cabelos pretos, mas de família pobre e suas imaginações iam além do que poderia ser. Não constava em sua genealogia nenhum parente que pudesse oferecer melhor oportunidade, pelo menos esse era o que seus pais sabiam.
Havendo uma catástrofe inesperada, Eliab ficou órgão de seus pais e tinha nessa ocasião onze anos e nem assim se deixou abalar. Vivendo de caridade amiga de outras famílias, continuou alimentando essa ilusão com maior desejo anos após anos e foi preparando seu espírito para esse grande dia. Continuou trabalhando, como um cidadão qualquer e nunca deixou de ler os mais variados contos das fantasias árabes.
O destino bom, porém, procurou compensá-lo contra os maus bocados vividos até então, que nessa altura estava beirando quarenta anos de idade. Solteirão, pois tinha tanta certeza do seu sultanato com um harém de muitas mulheres que nem notou o passamento de sua idade e inesperadamente veio-lhe ao encontro uma notícia sobre a morte de um tio muito longe, também solteirão, que deixara uma valiosa fortuna.
Ao tomar posse dos bens de seu parente, constituído de uma imensa fazenda e nela um casarão, Eliab deu asas a sua imaginação. Mandou reformá-lo com todo o requinte de uma mansão; adquiriu móveis finos, cristais, pratarias e ali instalou seu reinado e entre todos esses objetos luxuosos estava eu ocupando um lugar de muito destaque. Francamente nunca pude entender o porquê dessa intenção de Eliab. Afinal, eu não passava de uma simples cadeira, uma peça de madeira tecida no assento e no encosto de palhinha, em relação aos demais móveis daquela sala. E ‘verdade que o marceneiro que me fez era muito caprichoso e não deixava por menos qual quer defeitozinho e as peças que ele fazia custavam muito caro, muito dinheiro, mas durava a vida toda.
Acredito que Eliab deve ter visto o senhor Marcilio fazendo moveis e como este era cheio de melindroso, dava um !toc todo especial em seus produtos que impressionou tanto o comprador ao ponto de me adquirir com muita pompa e projeção.
Quando entrei naquela mansão, havia festa, luz, muita luz, bebidas finas, assados etc.. os criados de um lado para outro servindo os convidados; homens saboreando petiscos, fumavam e trocavam opiniões; as senhoras e mocinhas, o fraco de Eliab, muito bem-vestidas, todas charmosas, reunidas em grupinhos, fofocavam. Em dado momento, Eliab, muito bem-vestido com um terno todo branco e um enorme turbante vermelho estampado, enrolado na cabeça, parecendo um príncipe, seguido de dois criados negros e preciso de um toque de clarim, anunciando por um musico da orquestra, deu entrada no salão, reuniu todos os convidados e pigarreando, disse aos presentes em voz firme e compassada.
—- Senhoras, senhoritas, cavalheiros. Hoje é um dia de grande importância para mim e todos vocês! A partir deste momento deixo de ser aquele cidadão sem eira nem beira, que todos conheceram, para ser o ‘: SUITÃO ELIAB! Um rumor correu entre os convidados!
Ainda compassadamente, porém com voz mais alta e firme, para impressionar ainda mais os presentes, foi dizendo. — Daqui pra frente, quando alguém se dirigir a mim, terá de me procurar por este nome: SULTÃO ELIAB!
E mostrando-me aos presentes continuou sua fala de rei.
—Esta Cadeira, que adquiri especialmente, será meu trono e quando estiver sentado nela, ditarei as leis e assinarei os documentos mais importantes!
Senti-me orgulhosa da missão outorgada pelo novo sultão, mas achei que meu amo estava exagerando. Afinal, eu não passava de uma simples cadeira, em relação aos outros móveis mais chic que havia na grande sala, embora reconhecesse que o marceneiro que me fez fosse altamente profissional. Será que Eliab não estava louco?
Os convidados, olhando um para o outro e cochichando, estranharam muito a atitude do amigo sultão, que nessa altura dos acontecimentos, estava parecendo um amigo urso, mas compenetram-se. Afinal, estavam comendo, bebendo e saboreando as delícias oferecidas pelo anfitrião, maluco, é verdade, todavia, pensaram com seus botões. Cada louco com suas manias.
Hipocritamente, os convidados, um por um, cumprimentaram o novo rei, que sentado em seu trono, isto é, em Mim, recebia-os todo eufórico com o triunfo de um ideal longínquo. A festa continuou ao som do Jaz-Band até raiar do outro dia, quando tudo serenou, com a retirada dos convidados.
A fazenda era grande e nela havia de tudo: café, cana de açúcar, engenho de aguardente, um grande rio cortava-a pelo meio e tudo parecia que ia bem.
Alguns anos foram passados e sobre ainda base sentaram muita gente as mais variadas pessoas além, é claro, do meu amo o Sultão Eliab
Francamente nunca pude entender por que outras pessoas se sentavam em mim se afinal de contas eu era o trono e ele o rei. Mas como não podia protestar fui aguentando os jornalistas, pintores, poetas, condes, marqueses, diplomatas, militares e até um rei, sim senhor um rei de verdade chegaram a me ocupar e ali tratarem dos mais variados assuntos.
Eu não gostaria de interromper estas memorias se fosse contar tudo o que se passou tintim por tintim, iria muito longe, muitas folhas de papel seriam usadas, por isso encerro, mesmo porque estou velha e cansada, aliás, tudo aqui não prestam para nada. O teto, as paredes e até o piso onde me acho, estão caindo aos pedações, estão podres. Se ainda estou firme, pe porque o meu construtor foi muito caprichoso e o que fazia era para durar uma eternidade.
O Sultão, coitado, não se casou e nem teve seus herdeiros, como também não teve seu arem que tanto sonhara, apenas empregados e criadas enchiam a mansão. Com festas, bebidas, convidados e mulheres, sem cuidar da receita e das despesas, isto é, gastando e não ganhando, ficou pobre em poucos anos e não tendo dinheiro, não teve mais amigos, nem mulheres, nem o título, aliás, esse servia para chicotes dos conhecidos inclusive seus falsos amigos que comeram, beberam e se divertiram muitas vezes na mansão. O pior de tudo isso foi o casarão virar casa de fantasma, sim senhor, casa mal-assombrada, ele porque ninguém mais apareceu para cuidar dos bens que aqui existem.
Logo após reconhecer sua pobreza, Eliab, sentindo-se fracassado de suas intenções o abandonado por todos, suicidou- se e isso foi o suficiente para que as más línguas de novas vazão as mais absurdas e sua morte nada mais foi do que um castigo merecido e só o demônio poderia levar sua alma para o inferno, único lugar certo, para um débil dessa marca.
Infelizmente, a ignorância popular tem manias de acreditar em tudo o que é ruim e pecaminoso, embora, tivesse havido alguns exageros nas festas pagas promovidas polo sultão. Afinal, aqui não era um templo religioso, mas a crença popular ganhou a batalha e quando apareceu um casal de negros já bem velhos de cabe-los brancos, bastante desconfiados para cuidar da casa, por conta não sei de quanto, um vento forte atravessou a grande sala o foi bater numa vidraça com tanta força que esta espatifou-se provocando enorme barulho. O casal pego de surpresa e desconfiados arregalaram seus olhos, benzeram-se e saíram correndo pelos compartimentos, como estivessem disputando uma corrida até ganharem o vazio o terreno lá fora e isso deve ter sido o suficiente para proclamarem a casa como assombrada, pois tinham visto a alma do sultão percorrendo os aposentos.
A mim restam as lembranças de tudo o que aconteceu nesta mansão magnólia, pois, com dissera anteriormente, o Sultão Eliab tinha mania de ceder seu trono as pessoas de real importância para ele, é claro, e certa vez, um homem de mais idade trouxe uma moçoila e não encontrando o Sultão, sentou-se em mim e pôs menina seus pés. Percebi depois que sua intenção era obter o apoio moral e financeiro de Eliab e como este demorasse foi revelando suas intenções a garota.
Magda recusava aceitar ou fingia crente das promessas do velho galanteador, mas em dado momento Casanova, querendo provar sua sinceridade exclamou.
—Juro por tudo Magda, que te amo! Assim que o Sultão Eliab o chegar provará a você o meu grande amor.
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