O MONTRO GUARDA-CHUVA
Conto Francisco Piccirilo
Afirmei em um dos meus artigos, que não acreditava em almas do outro mundo, porque elas se apresentariam em diversas formas, inclusive de animais. Porém, certa ocasião apareceu-me uma coisa sobrenatural que até hoje assusta-me só por pensamento.
Todas as noites após terminado as atividades do dia, antes de dormir, ajoelhava e fazia minhas orações. Rezava, não só para agradecer mais uma jornada de lutas, como também pedir a Deus um boa noite; bom sonho e sobretudo, tranquilidade. E isso é natural, pois o outro dia seria mais uma batalha de sacrifícios na luta cotidiana pela vida. Orava também pela felicidade da família; parentes e amigos. Todavia, essas penitencias eram feitas a base de luz apagada, por economia. No entanto, era comum perceber qualquer coisa de anormal. Seria tentação?
Na vida dos santos, encontramos episódios que, quando eles oravam, os demônios em atentavam-lhes, Santo Antonio de Pádua; São Francisco de Assis e outros grandes da Igreja, constantemente eram vítimas e para expulsá-los, faziam penitencias; dobravam os jejuns; chicoteavam seus próprios corpos e procuravam cada vez mais a perfeição espiritual, porém e eu? Quando me ajoelhava, era para rezar algumas orações, dirigir os agradecimentos e pedir as bençãos de Deus. Porém, tinha a certeza de não estar em estado de santidade. Ser santo não é fácil. Por que então as tentações?
Os demônios são ruins. Entretanto, eles também querem almas para seu reino. Por isso, pegar almas como a de São Jeronimo; São Vicente de Paulo: São Pedro Apóstolo e outros, eram interessantes, mas para que a minha? figura apagada e desconhecida.!
Os santos, pelo seu grau de virtude e poderes, atraiam inúmeras pessoas para o cristianismo, mas eu, mal podendo comigo mesmo, que prejuízo poderia causar ao reino de Satanás? Entretanto, nessa noite estava rezando, como sempre fazia. La fora chovia torrencialmente. Em casa todos tinham-se recolhidos. O silêncio era grande. Em meu quarto junto ao Oratorio Zinho, escutava minhas próprias palavras pronunciadas muito baixinhas. Não sei se era sono motivado pelo cansaço ou o longo tempo ajoelhado. Em dado momento, vi um enorme vulto postado no canto do quarto. Assustei-me horrivelmente e não pude gritar; a voz não saia. Apertei rapidamente a pera e acendi a luz. Não vi nada, isto é, apenas um modesto guarda-chuva posto ali por mim mesmo. O objeto saiu do canto imediatamente, mas fiquei profundamente impressionado, pois todas as vezes que me lembro, os pelos do corpo se eriçam.
Limeira maio de 1963
Leave a Reply